Montagem é um fenômeno de crítica e público na trajetória do grupo mineiro, sempre com sessões esgotadas, e volta aos palcos no dia 15 de dezembro, às 20h, com ingressos a preços populares.
Fotos/vídeo: https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1L3kB1E5ALT2tM-Zjml3GBDAdaRaU5I–
Há algo de único na relação criada pelo espetáculo “Banho de Sol” e o público belo-horizontino e nacional que vem acompanhando a trajetória da peça desde sua criação em 2019. As salas de teatro sempre lotadas para assistir à montagem da Zula Cia. de Teatro demonstram que algo de muito especial aconteceu. E mais uma vez a plateia belo-horizontina vai ter a oportunidade de experienciar de perto a peça em um palco ainda maior, o Grande Teatro do Sesc Palladium, em única apresentação, no dia 15 de dezembro, às 20h, com ingressos a preços populares.
“Banho de Sol” é fruto do projeto “A arte como possibilidade de liberdade”, composto, dentre outras atividades, por aulas de teatro que foram realizadas em um complexo penitenciário feminino ao longo de um ano, durante o banho de sol das participantes. O teatro adentrou aquele universo e foi adentrado por ele. “A princípio a ideia era somente fazer com que essas mulheres tivessem a oportunidade de vivenciar uma experiência artística, momentos de troca, de afeto, de integração entre elas e ver como essas atividades reverberavam no cotidiano delas. Mas a realidade vivenciada por nós foi tão intensa que nos provocou a criar uma obra para que esta vivência pudesse fazer ecoar as vozes destas mulheres em situação de cárcere”, destaca Talita Braga, atriz e fundadora da Zula Cia. de Teatro, que estrela o espetáculo ao lado das atrizes Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline.
O encontro entre as artistas e as participantes, assim como as modificações provocadas por essa experiência em cada uma das mulheres em privação de liberdade, foram os motes da criação dramatúrgica da peça, assinada por Talita Braga, que também assina a direção com Mariana Maioline.
“A intenção da peça é, a partir das nossas memórias e experiências, dividir com o público o processo de transformação que nós, juntamente com nossas alunas vivenciamos ao longo de um ano de trabalho dentro de um complexo penitenciário. Trazer à tona os preconceitos, julgamentos, a crise do sistema prisional, a opressão, o abandono das mulheres em privação de liberdade, mas também o poder humanizador da arte, o poder do afeto. Tudo isso a partir de memórias de corpos que ouviram, viram, viveram e conviveram com essa realidade. Nossos corpos e vozes serão a ponte para trazer para a sociedade toda a discussão vivenciada dentro do presídio”, destacam as atrizes.
É notável a conexão que “Banho de Sol” vem estabelecendo por onde passa, com as mais diversas plateias, trazendo para as salas de espetáculo espectadores que, muitas vezes, não têm o hábito de frequentar assiduamente esses espaços. Mas esse impacto gerado pelo espetáculo também rompe as barreiras do artístico e alcançou diversas autoridades e instituições públicas ligadas à questão prisional ou dos direitos humanos Brasil afora, gerando reflexões que transbordam as paredes do teatro.
“Apresentamos Banho de Sol para a Faculdade de Direito, no Tribunal de Justiça de MG, para trabalhadoras e trabalhadores do Programa de Inclusão Social dos Egressos do Sistema Prisional. O interesse dessas pessoas no espetáculo afirma pra gente o compromisso ético que temos com o trabalho e a capacidade da arte em sensibilizar as pessoas mesmo para um tema tão complexo”, reflete Mariana Maioline.
A arte como possibilidade de liberdade
Com um trabalho focado na mulher em situações marginais, a Zula Cia. de Teatro tem como ponto de partida para a criação teatral histórias e depoimentos reais como em seus primeiros espetáculos “As rosas no jardim de Zula” (de 2012 com direção de Cida Falabella) e “MAMÁ!” (de 2015, com direção de Grace Passô). A partir dessas obras, a companhia se firmou como um grupo de pesquisa de teatro documentário e teatros do real, com foco no feminino e na condição da mulher na sociedade atual.
Trabalhar com mulheres em situação de cárcere era um desejo antigo de Talita Braga, mas foi em 2016, ao participar do núcleo de pesquisa para arte-educadores no Galpão Cine Horto, que o projeto começou a ganhar vida. Ela conta que as atividades eram coordenadas por Gláucia Vandeveld, que já tinha realizado atividades teatrais em unidades prisionais e acumulava experiência nesse universo. Foi desse encontro que surgiu o projeto que teve como fio condutor a questão: “é possível que a arte ofereça momentos de liberdade a mulheres em situação de cárcere?”
Na época, as atividades consistiam em aulas de teatro e criação de um espetáculo para um grupo de 30 mulheres em privação de liberdade que cometeram crimes de repercussão. Ao lado das atrizes que estrelam a peça, juntaram-se ao projeto Priscylla Lobato, arte-educadora e atriz que integrou a equipe na primeira etapa do trabalho, André Veloso, Alexandre Tavera, Philippe Albuquerque, Ana Haddad e Cristiano Oliveira. Além da iniciação à prática teatral, momentos de fruição artística e elaboração criativa, foi realizada uma exposição de artes visuais baseada nas experiências e relatos discutidos durante as aulas. A iniciativa, em todo seu conjunto, foi uma das finalistas do Prêmio Innovare de 2016, que tem o objetivo de identificar e difundir práticas que contribuem para o aprimoramento da justiça no Brasil.
“A realização do projeto nos provocou a sair de um lugar cômodo, de acharmos que teríamos muito a dar e pouco a receber e, no entanto, a intensidade dessa troca nos colocou em xeque. Nos confrontamos com nossos privilégios de mulheres brancas de classe média, com nossos preconceitos e nossa arrogância. Encontramos afeto verdadeiro, cumplicidade e cuidados umas com as outras e fomos atravessadas por esses sentimentos. O que fica pra gente são perguntas: a vida pulsa em situações extremas? O afeto é capaz de transformar vidas? Como manter a lucidez? Quando é que uma luta passa a ser uma causa sua? O que eu tenho a ver com isso? Como me haver com isso? É preciso te ferir pra você olhar pra ferida? Mas fica também uma certeza: é preciso repensar o sistema prisional”, sublinham Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga.
Sobre a Zula Cia de Teatro
Desde sua origem, em 2010, a Zula tem como ponto de partida para a criação teatral histórias e depoimentos reais de mulheres em situação marginal, como em seus primeiros espetáculos “As Rosas no Jardim de Zula”, 2012, com a direção de Cida Falabella e “MAMÁ!”, 2015, que teve a direção da dramaturga e diretora Grace Passô. Em 2019, a Cia. estreou “Banho de Sol”, um espetáculo, que surgiu do encontro com tantas outras mulheres, artistas. Em 2023, o grupo estreou seu quarto espetáculo, intitulado “Casa”, uma continuidade de sua pesquisa em promover espaços de fala e escuta do universo feminino. Em resumo, a Zula Cia de Teatro faz um teatro com mulheres, sobre mulheres, que comunica com todes!
Serviço
O que: “Banho de Sol”, espetáculo da Zula Cia de Teatro
Quando: 15 de dezembro, sexta, às 20 horas
Onde: Grande Teatro do Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1046, centro)
Ingressos: Valores variam entre R$ 10 e R$ 30. À venda no www.sympla.com.br
Classificação: 14 anos. Duração: 2 horas
Mais informações: Instagram: Zula_Teatro e Facebook: Zula Cia de Teatro
FICHA TÉCNICA
REALIZAÇÃO: Zula Cia. de Teatro
DIREÇÃO: Mariana Maioline e Talita Braga
DRAMATURGIA: Talita Braga
TEXTOS: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga
CONSULTORIA DRAMATÚRGICA: Vinícius Souza
CRIAÇÃO E ATUAÇÃO: Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer, Mariana Maioline e Talita Braga
ILUMINAÇÃO: Cristiano Araújo
TRILHA SONORA E VÍDEOS: André Veloso
CENÁRIO, FIGURINO E EXPOGRAFIA: Alexandre Tavera
DIREÇÃO DE TEXTO: Ana Hadad
ASSESSORIA DE MOVIMENTO CÊNICO: Fabrício Trindade
DESIGN: Philippe Albuquerque
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Andréia Quaresma
ASSESSORIA JURÍDICA: Lívia Vilela Bernardes
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Cristina Sanches e Soraya Belusi
MÍDIAS SOCIAIS: Paloma Morais
TRADUÇÃO PARA O ESPANHOL: Tereza Zamorano
AGRADECIMENTOS: nossas queridas alunas, Priscylla Lobato, Clara Garavello, PRESP, Grupo Teatro Invertido, Robson Vieira, Patrícia Ferreira, Daniela Tiffany, Direção do Complexo Penitenciário que recebeu este projeto, Tainá Rosa, Fernanda Fernandes, Sérgio Abritta, Lili Doces, Elisa Massa, Haydée, Rose, Amora, Víctor, Tia Nívea, Alex, Ettore, Valentina, Bento, Marivane, Taís, Tia Márcia, Lucas Completo, Lúcia, Gui e Teresa Zamorano